terça-feira, 16 de outubro de 2007

Escrever é quase dizer, mas muitas vezes o momento não é sincrono, o sentimento a ser exposto no calor da hora já se esvaiu. De todo modo, é melhor do que calar para sempre. É desse calar que trata Fedor, escrito recentemente. Como a letra "o", aquilo que não é dito vai se aprofundando em nosso corpo.

Fedor

Há um cheiro ruim saindo de minha boca
não é mal hálito, é um mau hábito
o péssimo hábito de engolir as palavras
quando deveria colocá-las para fora

É o péssimo hábito de calar

As palavras que não digo apodrecem
e fedem, infectam meu sangue, dão azia
e causam diarréia, apnéia, taquicardia
e amargam o âmago, amarguram

É péssimo o hábito de calar

Trago, aos cinqüenta anos, tantas camadas
de palavras não ditas, desditas, malditas
que já não consigo limpar a fossa do meu corpo
e um silêncio fétido tomou conta de mim

É péssimo hábito o de calar

6 comentários:

adriana disse...

ola Alessandro
Adorei Fedor ..... criativo , mas verdadeiro !!
As vezes me sinto infectada, ate meu sangue .....

abracos
Adriana

henrique disse...

mt bem expresso o sentido do mal estar que existe em nós qd calamos os nossos pecados ou não perdoamos nossos erros ou os de outros.

Unknown disse...

ola Alessandro

vc. tem toda razão quando fala do fedor, porque todos nós guardamos mágoas, ressentimentos....mas chega uma hora que temos que nós libertamos!!!!!

um forte abraço
simone Franceschini
21 de Outubro 2007 21:40

henrique disse...

estive no lançamento de seu livro para conhecer este autor q não tem medo dos terrores masculinos e os expõe com leveza. Parabéns

Unknown disse...

Alessando, boa noite.
Fedor é ligeiro mas inteiro.
Tenho que dizer, sua poesia é intensa, marcante, tranforma nossa competência de leitor, nos admiramos de sua criação, atentamos para uma escrita rara e brilhante.

. disse...

Alessandro...
Que belo texto!!
O seu poema é um perfume de libertação e fala, porque com ele você não se calou sobre o calar-se!!

Adorei!
Lanara