quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Aniversário da traqueostomia


Abusei da gramática, da mentira e da internet




28/12/2011. Hoje faz um ano que estou deitado nessa desconfortável cama

ELA espantou elas de perto de mim. Por isso sonho com a bocarra de Came

-ron Diaz me lambendo, me beijando, me chupando, mordendo minhas cami

-setas e blusas pólo, que ela não sabe são todas cortadas atrás. Vou sugerir a Camo

-rra, que ao invés matar a pauladas, injete algo que mate os neurônios motores, camu

-flando a morte dos traidores, botando-os para morrer lentamente.



Como agora assisto muito esporte na TV, ceparei as cextas, entre os cete dias da cema

-na, para ver NBA, NBB... NBZ (Zimbabwe). Outro dia, assisti na Bolívia uma corrida no ceme

-nterio. Se o cara cai e quebra a cuca numa cruz, fica por lá. Eu não vou tão cedo para o cemi

-tério, até porque quero ser cremado, adoro que passem creme em mim. Só esque- cemo

-nos de avisar, eu e alma, ao oni-oni-oni, que vou viver mais. Estava ouvindo Psycho Le Cému

uma de minhas bandas preferidas, quando me vi cantando em japonês.



365 dias no mesmo quarto, sonhando ser normal (ando falo jogo como trepo viajo), em cima

dessa cama, com pernas, braços, cabeça, pinto e coração, de fato o corpo todo está cime

-ntado. Sonho ser um assassino, já que vou morrer nos próximos anos, e com a minha cimi

-tarra original, matar todos os corruptos, estupradores, pedófilos etc. Cheguei ao cimo

da privação, da abstinência, abri mão de quase tudo, mas confesso que fiquei cimu

-ento (até escrevi errado, ciumento) ao perder a mulher que mais amei.



Não como, não coço, não começo se não vou acabar, estou de cama, não de coma

Os DELA - Doentes de ELA (Estrelítzias Lisimáquias Astromélias) Anônimos - come

-moram cada dia semivivos. Sigo criando poesias, submarinos, bromélias, pães, comi

-chões entre as pernas femininas, bolas, versos, panetones, livros inacabados, como

meu livro de memórias, iniciado em 2009. Com 51 anos (ou 47?) não sei se sou comu

-nista, budista, flamenguista, frentista, humanista ou tudo dista disto.



Confessando que roubei esta poesia louca de um poeta de Uganda, chamado Cuma

-eucendó, descobri que o plágio é fácil, ágil, sem ágio. Em 2012 chegarei ao cume

da produção de livros, todos plagiados. Escritores desconhecidos servirão de cumi

-ns para mim, vou lançar 12 livros, todos cocôpiados. Vou ficar famoso, o çupra çumo

da literatura. Só não vou ao Jô porque o oni-oni-oni me pôs nesse túmulo, o cúmu

lo da maldade, acumulou em mim todas as dores físicas e espirituais. Fim!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

G1 me entrevistou

Poeta de Brasília usa olhos para escrever


Alessandro Uccello tem enfermidade degenerativa e perdeu movimentos. Computador com câmeras capta movimento das íris e permite comunicação.


Paulista radicado em Brasília desde 1960, o escritor Alessandro Uccello escreveu e editou seu livro mais recente, lançado em outubro, com os olhos. Uccello, de 51 anos, tem esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa que afeta as células do sistema nervoso central que controlam o movimento dos músculos – a mesma enfermidade do físico britânico Stephen Hawking.

Qual é o sentido de nossas finitas vidas senão tornar outras vidas mais bonitas?"
Alessandro Uccello em 'Legado', do livro 'Terapoética - como transformar problemas em poesia'

Um computador com quatro câmeras registra o movimento das íris de Uccello e permite que ele se comunique, trabalhe, faça piadas e poesias. A máquina pertence ao Banco Central e foi emprestada a Uccello em fevereiro para que ele continuasse a trabalhar para a instituição. Formado em economia e em engenharia agronômica, ele era coordenador do programa de educação financeira do banco antes da doença se manifestar. Atualmente, elabora e revisa textos para publicações do BC.

Os primeiros sintomas da ELA apareceram em 2006, mas o diagnóstico só veio em março de 2007. Em dezembro do ano passado, Ucello passou por uma traqueostomia. Respirando com auxílio de aparelhos, ele não diminuiu o ritmo de produção. “Eu deitado, estou sempre escrevendo. Tenho seis projetos em andamento”, conta.

Ele passa por duas sessões diárias de fisioterapia e conta com os cuidados de enfermeiras em tempo integral. Incurável, a ELA compromete os movimentos e a capacidade respiratória, mas não afeta a cognição. Estima-se que duas a cada 100 mil pessoas têm a doença no mundo.

“Não tenho uma rotina, mas escrevo e trabalho todos os dias. Meu principal projeto é um livro de memórias, para minhas filhas saberem o que fiz. Vivi muito nesses 47 anos, viajei, namorei com muitas, trabalhei, tive empresas de consultoria, lojas de CDs e de celular”, diz Uccello.

Legado

“A epopeia de Memeia, a centopeia” é o sétimo livro de Uccello, o terceiro voltado para o público infantil. Ele afirma que os trabalhos são seu legado para as duas filhas, de 8 e 9 anos de idade.

“Nunca tinha pensado em escrever para crianças, mas eu o fiz pelas meninas. Contava histórias [para elas] e fiquei sem voz muito cedo, elas tinham 4 e 3 anos. São para minhas filhas terem orgulho do pai.”

O próximo livro, feito em parceria com um amigo, deve ser lançado no primeiro semestre de 2012. “Tem mais poesias minhas [do que dele]. Quase obriguei o Fernando [Barros] a fazer o livro comigo. Descobri há pouco que ele é um poeta enrustido”, diz Uccello.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dez meses sem novas poesias

Em dezembro fiz uma traqueostomia (para quem não sabe, tenho ELA) e desde então estou de cama, o que dificultou postar poesias. Bom, agora estou de vollta, em breve lançarei  um novo livro, com um amigo, Luiz Fernando Barros, que vai chamar Dois Candangos. Aí vai uma poesia do novo livro.

Emergência

Elevadores de Brasília
minha solidão acompanhada
meu olhar perdido na estaticidade
desta cidade enquadrada

Andar por andar
sem ter aonde ir.
subir, descer, conviver
elevadores são como banheiros
presenças assustadoras na intimidade
principalmente você

Um dia, sós, aflorou um beijo
disparou o alarme do desejo
apertou a emergência do amor
toquei todos os botões, abri
as portas daquele isolamento
subindo, descendo, subindo, descendo
os corpos... olhares perdidos
andar por andar... o perigo
em cada parada... o flagrante

Na frigidez de um elevador
entre quatro paredes onde nunca estamos
há sempre solidão
e tesão