quarta-feira, 16 de maio de 2012
os casamentos com o tempo perdem verbos (e ganham outros)
Verbos extintos
Apaixonar foi o primeiro verbo que empalhei
E coloquei sobre a minha mesa, no escritório
Contávamos então com oito anos de casório
Depois extinguiram-se arriscar e surpreender
À medida que o casamento entrava na rotina
E conservei suas formas infiltrando parafina
Outros verbos foram morrendo com o tempo
E eu, para preservar seus saudosos significados
Os fui colecionando, devidamente taxidermizados
Até que um dia um amigo disse que era possível
Ressuscitar aqueles verbos com uma nova paixão
Respondi: Nosso verbo amar não está em extinção
quinta-feira, 3 de maio de 2012
nunca fiz algo tão concreto
INSEGURANÇAS INIMIGOS DOENÇAS DORES PERIGOS
terça-feira, 1 de maio de 2012
Elenilson Nascimento
Elenilson - Guerreiro Uccello, antes de mais nada, muito obrigado por essa oportunidade de trocarmos figurinhas. Inicialmente gostaria que você explicasse como nasceu seu amor pelo trabalho da linguagem.
Alessandro - Interessante, nunca pensei nisso. Foi pela música. Até meus quatorze anos eu curtia rock, Led Zeppelin, Black Sabbath, Nazareth etc. Fui descobrindo o rock nacional, Mutantes, Terço, Rita Lee, Zé Rodrix até chegar a Raul, Novos Baianos, Clube da Esquina, Chico, Caetano, Gil, Bossa Nova. A literatura entrou na minha vida pela música.
Elenilson - “Qual é o sentido de nossas finitas vidas/senão tornar outras vidas mais bonitas?". É assim que você começa o poema “Legado”. Descobrindo outros poemas seus na rede, pode-se perceber que ele é muito fragmentado. Comente.
Alessandro - Escrevo sobre qualquer coisa que me desperte interesse. Já escrevi como outros homens, amigos cornos, gays, desconhecidos, como mulheres, putas, amigas traídas,e outras pessoas. Você achar minha poesia fragmentada é um elogio.
Elenilson - Hoje, você lê que autores?
Alessandro - Mia Couto, José Saramago, Gabriel Garcia Marques, Nelson Motta, Manoel de Barros, Elisa Lucinda,Mário Quintana, Julio Cortazar, Fernando Pessoa sempre.
Elenilson - Poesia não compra sapato, mas como andar sem poesia?
Alessandro - Eu calço em um pé a poesia (Pessoa é a sola) e no outro a MPB (Chico é a sola) e ando por qualquer lugar, país, ambiente, terreno.
Elenilson - Cite, por favor, os principais livros de autores nossos que não podem faltar na lista de alguém que está querendo descobrir coisas.
Alessandro - Livro do desassossego, Fernando Pessoa; A bíblia do caos, Millor Fernandes; O livro das ignorãnças, Manoel de Barros; Grane Sertão: Veredas, Guimarães Rosa; Terapoética: como transformar problemas em poemas, Alessandro Uccello.
Para ler mais, acesse um dos blogs.
http://literaturaclandestina.blogspot.com.br012/04/entrevista-com-o-poeta-alessandro.html
http://comendolivros.blogspot.com.br/2012/04/entrevista-com-o-poeta-alessandro.html
http://orebate-elenilsonnascimento.blogspot.com.br/
http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com.br/
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Terapia botequiana
Amigo
sabe a diferença
entre nossos casamentos?
Eu
cada vez mais
caso
Você
cada vez mais
casos
sexta-feira, 20 de abril de 2012
não paro
Fui comemorar o dinheiro num puteiro
gostei da boite, decidi abusar da noite
peguei um pedaço de mau caminho
e muita areia pro meu camiãozinho
Parei
Véio, deu um trabaio do caraio
tirar toda areia do camiãozinho
pra tapar os buracos do caminho
além da grana que dei pros cana
Não parei
Tinha um frete perto de Paraty
de tapetes caros e super cafonas
de repente, na minha frente vi
duas gostosonas pedindo carona
Parei
uma de peitos tomara que saiam e minissaia tomara que caia
outra de minisseios e uma bunda que pôs os dois pés no freio
papo foi, papo veio, véio, quando vi estava no meio dos seios
nos acostumamos, encostei no acostamento e nos encostamos
Não parei
da boleia, um balaio pra três, rolamos para a baleia da caçamba
eu não boiolei como fiz no bordel, bailei com as duas, deu samba
rolou todo tipo de sacanagem, até homenagem para um francês
as moças continuavam enquanto eu parava, demos certo os três
Parei
amanheceu, deixei as duas na praia
ficou na carroceria aquela minissaia
vi pelo retrovisor, para me lembrar
delas e do francês, um tal de Truá
Não parei
sábado, 7 de abril de 2012
dEUs
serei capaz de moldar
o campo repleto de árvores coloridas e flores cheirosas balançando ao vento
uma porca esparramada com cinco leitões disputando as tetas plenas de leite
o olhar prostipuro da rapariga de seios fartos e pernas torneadas pelo demo
em peças tão maravilhosamente perfeitas que nem o criador reconhecerá.
Serei um deus
com minhas mãos ávidas e rápidas parirei
Adão e dele Eva e dela todos até mim
de modo que meus olhos serão de pedra mole com milhares de anos por rever
minha cabeça será oca, ecoando o silêncio do passado no futuro que ali se inicia
minha boca será uma caverna recitando toda a sabedoria da espécie – nenhuma,
de meu coração jorrará a lava quente e úmida de todos os sangues e humores derramados
e meu pênis se abrirá em vagina, o marco de um novo tempo, o hermafrodita perfeito
Se não for assim
só restará barro e pó
restarei eu só
deus do vício de mim
como no início
como no fim
domingo, 4 de março de 2012
letras
Eu amo-te?
Eu te amo
E amo teu...
É tão meu!
É meu ato
Eu a meto
Eu temo-a
E o Mateu?
Eu mato e
Até o meu
Eu te amo
É, eu mato
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Poema feito hoje.
Comecei tomando mais café, noites insones a fazer promessas
Férias em igrejas, templos, sinagogas, mesquitas, a expor a dor
Provei tudo de féleo que encontrei, dizem que sofrer confessa
Autoflagelei-me com chicote férreo, sangrando com o Salvador,
Tudo para alcançar o que todos me falavam em tom profético
Fui até o Amazonas, a espera de milagre mergulhei no rio Tefé
Freqüentei rituais feitos com fezes, saia de lá fedendo, fétido
Comi esféricas ervas homeopaticas feitas por monges do Tibet
Até busquei chegar mais perto do céu, subindo em teleféricos
Plantei muitas árvores milagreiras em terras férteis dos deuses
Freqüentei liturgias virtuais, pondo no computador periféricos
Segui, carreguei, joguei terra em féretros de amigos e parentes
Meditei na linha que separa os hemisférios, com pesadas cruzes
Nada da fé que prometeram católicos, judeus, budistas, crentes
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Vem um novo livro : Dois Candangos
Alessandro e Fernando, candango e candango, chegaram ao Planalto Central,
à Brasília, no ano de mil novecentos e sessenta, ano de inauguração da capital
não eram ordinários, ruins¹, nem ajudaram a construir a capital da esperança
no máximo, construíram castelos de terra vermelha do cerrado. Eram crianças
Fernando e Alessandro, amigo e amigo, voltaram a se encontrar aos vinte anos
estudantes de engenharia agronômica na UnB, e no auditório Dois Candangos
viram filmes e peças. Estudavam no Minhocão, sempre vigiados pelos militares
por isso, quando formaram, nada de governo, foram para empresas particulares
Alessandro e Fernando, empresário e empresário, abriram seus próprios negócios
empresas de assessoria agronômica. Ao saberem, fundiram firmas, viraram sócios
Guerreiros, nome da escultura de Bruno Giorgi, depois apelidada Dois Candangos
resistiram até 1990, até que o governo detonou a economia, deu uma de capiango²
Fernando e Alessandro, poeta e poeta, cujos pais, de fato, são candangos legítimos
Bolivar e Vilma, pais de Fernando; Paolo e Irany, de Alessandro, amigos íntimos
agora funcionários públicos, casados, Alessandro com Sonia, pais de Laura e Elisa
Fernando e Graziela, pais de Tito, Marina e avós de Luiz Felipe, da filha Ana Luiza
Alessandro e Fernando, pássaro (Uccello) e Barros, dois candangos poetas do cerrado
Fernando nunca publicou as suas poesias, já Alessandro tem sete livros publicados³
assim nasceu esse livro, de Fernando e Alessandro, que ninguém ama, ninguém quer
com a participação do candango adotado e autêntico poeta de Brasília, Nicolas Behr
Esperamos que gostem
1. Candango - de origem africana, significa “ordinário” e “ruim”. Também era a denominação dos trabalhadores que construíram Brasília.
2. Capiango – de origem brasileira, “ladrão astuto”.
3. Livros de poesia – S.Ó.S. (com Cacai), Horizonte Cerrado, Eu Com Verso, Terapoética. Livros infantis - O Pingo e a Gota, Lápis de Flor (ilustrados por Manuela Loddo), A epopeia de Memeia, a centopeia (ilustrado por Jussara Zottmann).
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Feira do Livro da EAB -autor homenageado Alessandro Uccello
reunião para decidirmos o tema da feira e apresentei você e os seus livros
ao grupo. Os 13 membros do comitê presentes foram unânimes em homenagear
você como autor e apresentar suas histórias, lendo-as, interpretando-as,
cantando e fazendo as brincadeiras sugeridas em seus livros (Memeia, Lápis
de Flor e O Pingo e a Gota). Todos se sentiram privilegiados em ter você como
integrante da nossa comunidade escolar, que comemora este ano 50 anos.
Iremos também vender os seus livros, divulgando-os durante e após as
apresentações com as crianças. Esperamos assim contribuir um pouco para o
lançamento dos livros que aguardam no "forno" para serem publicados. Vamos
filmar tudo para você assistir com as meninas depois.
O programa a princípio será assim:
1) *9:00 - 11:00* - leitura dos livros, peça teatral de um livro (O Pingo e a Gota),coralzinho com as 4 músicas do livro, Venda dos livros. Vídeo apresentando você e possível entrevista das crianças feitas com você.
2) *11:00 - 2:00 * - continuar venda dos livros, mesas com brincadeiras
sugeridas no Lápis de Flor, talvez uma corrida de saco com a Memeia
(várias crianças formando uma centopéia) e outras sugestões e idéias que
surgirem.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Aniversário da traqueostomia
Abusei da gramática, da mentira e da internet
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
G1 me entrevistou
Alessandro Uccello tem enfermidade degenerativa e perdeu movimentos. Computador com câmeras capta movimento das íris e permite comunicação.
Paulista radicado em Brasília desde 1960, o escritor Alessandro Uccello escreveu e editou seu livro mais recente, lançado em outubro, com os olhos. Uccello, de 51 anos, tem esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa que afeta as células do sistema nervoso central que controlam o movimento dos músculos – a mesma enfermidade do físico britânico Stephen Hawking.
Qual é o sentido de nossas finitas vidas senão tornar outras vidas mais bonitas?"Alessandro Uccello em 'Legado', do livro 'Terapoética - como transformar problemas em poesia'
Um computador com quatro câmeras registra o movimento das íris de Uccello e permite que ele se comunique, trabalhe, faça piadas e poesias. A máquina pertence ao Banco Central e foi emprestada a Uccello em fevereiro para que ele continuasse a trabalhar para a instituição. Formado em economia e em engenharia agronômica, ele era coordenador do programa de educação financeira do banco antes da doença se manifestar. Atualmente, elabora e revisa textos para publicações do BC.
Os primeiros sintomas da ELA apareceram em 2006, mas o diagnóstico só veio em março de 2007. Em dezembro do ano passado, Ucello passou por uma traqueostomia. Respirando com auxílio de aparelhos, ele não diminuiu o ritmo de produção. “Eu deitado, estou sempre escrevendo. Tenho seis projetos em andamento”, conta.
Ele passa por duas sessões diárias de fisioterapia e conta com os cuidados de enfermeiras em tempo integral. Incurável, a ELA compromete os movimentos e a capacidade respiratória, mas não afeta a cognição. Estima-se que duas a cada 100 mil pessoas têm a doença no mundo.
“Não tenho uma rotina, mas escrevo e trabalho todos os dias. Meu principal projeto é um livro de memórias, para minhas filhas saberem o que fiz. Vivi muito nesses 47 anos, viajei, namorei com muitas, trabalhei, tive empresas de consultoria, lojas de CDs e de celular”, diz Uccello.
Legado
“A epopeia de Memeia, a centopeia” é o sétimo livro de Uccello, o terceiro voltado para o público infantil. Ele afirma que os trabalhos são seu legado para as duas filhas, de 8 e 9 anos de idade.
“Nunca tinha pensado em escrever para crianças, mas eu o fiz pelas meninas. Contava histórias [para elas] e fiquei sem voz muito cedo, elas tinham 4 e 3 anos. São para minhas filhas terem orgulho do pai.”
O próximo livro, feito em parceria com um amigo, deve ser lançado no primeiro semestre de 2012. “Tem mais poesias minhas [do que dele]. Quase obriguei o Fernando [Barros] a fazer o livro comigo. Descobri há pouco que ele é um poeta enrustido”, diz Uccello.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Dez meses sem novas poesias
Emergência
Elevadores de Brasília
minha solidão acompanhada
meu olhar perdido na estaticidade
desta cidade enquadrada
Andar por andar
sem ter aonde ir.
subir, descer, conviver
elevadores são como banheiros
presenças assustadoras na intimidade
principalmente você
Um dia, sós, aflorou um beijo
disparou o alarme do desejo
apertou a emergência do amor
toquei todos os botões, abri
as portas daquele isolamento
subindo, descendo, subindo, descendo
os corpos... olhares perdidos
andar por andar... o perigo
em cada parada... o flagrante
Na frigidez de um elevador
entre quatro paredes onde nunca estamos
há sempre solidão
e tesão
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
As marcas do amor
Não entre!
É cada vez mais difícil entrar em meu coração
pois guardo todos os cacos dos amores passados
com as pontas para cima, espalhados no coração
É cada vez mais difícil entrar em meu coração
pois guardo todas as palavras de arame farpado
com as quais os putos magoaram meu coração
É cada vez mais difícil entrar em meu coração
pois guardo todos os ódios sentidos e não falados
com as bocas abertas, aguardando seu coração
Se, ainda assim, após ler todas essas advertências
você insistir em conquistar um canto, venha equipado
traga gaze amor esparadrapo mertiolate e paciência
É cada vez mais difícil sair de meu coração
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
A perigo
Abandono
Anda tão abandonado o meu tesão
que essa noite tive um sonho erótico
com minha mão
Anda tão abandonada a minha libido
que meus olhares têm uma tarja:
proibido!
Anda tão abandonado o meu amor
que alguém me mandou um buquê
de couve-flor
Anda tão abandonada a minha paixão
que supliquei um beijo e o espelho disse:
não!
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Sem ti não há amor
Eu era nada
trouxeste teu amor
te tornaste namorada.
Em meu futuro
se tu partires
haverá um fu ro.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Réviver
Moinhos
Nas noites em que não durmo
com a cabeça quase em paranoia
atiro-me nas águas da memória
para emergir do inferno noturno
Rejogo partidas maravilhosas
remarco pontos e gols incríveis
rebeijo bocas inesquecíveis
recomo namoradas gostosas
Reviajo a lugares marcantes
refalo com grandes amigos
ressinto amores antigos
regozo a vida como antes
E, nesse mergulho profundo
no curso das horas bem gozadas
constato que as águas passadas
movem os moinhos do meu mundo