quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Réviver

 Moinhos

 

Nas noites em que não durmo

com a cabeça quase em paranoia

atiro-me nas águas da memória

para emergir do inferno noturno

 

Rejogo partidas maravilhosas

remarco pontos e gols incríveis

rebeijo bocas inesquecíveis

recomo namoradas gostosas

 

Reviajo a lugares marcantes 

refalo com grandes amigos

ressinto amores antigos

regozo a vida como antes

 

E, nesse mergulho profundo

no curso das horas bem gozadas

constato que as águas passadas

movem os moinhos do meu mundo

  

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Eu era ateu


A graça de Deus
 
Eu era ateu
até que Deus me concedeu
essa (des)graça
Agora eu rezo todo os dias
para ver se passa
 
Assim ele cabala fé
onipresente, onisciente, onipotente
semeia desgraças pelo mundo
terremotos, desabamentos, enchentes
epidemias, guerras santas, genocídios
e os sobreviventes agradecem-lhe
por estarem vivos
por terem perdido só a casa
por terem perdido só uma perna
por terem perdido só três parentes
por Ter-lhes concedido a "vida eterna"
 
Como Ele consegue?
Essa é a graça de Deus 
  

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Mais do que sentir, pressentir

Ciao

 

Nem tudo começa no sim

pressentindo o amor

prefiro arriscar a sorte

a deixar morrer

 

Nem tudo termina no fim

pressentindo a dor

prefiro arriscar a morte

a deixar correr

 

Foi assim nosso amor

vivia em nós

antes de nascer

 

Assim foi nosso amor

morria em nós

antes de morrer

 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Há que cuidar da estante


Somos o que fomos

 

Ao longo desses longos tempos de amor

fomos emoldurando nossos sentimentos

– os beijos apaixonados

– os abraços saudosos

– a emoção das viagens

– o prazer dos amigos

– as alegrias em família

até que a estante ficou lotada

 

Não há espaço para novas fotos

Não há espaço para novos fatos

Não há espaço para o futuro

 

Somos o que fomos

uma coleção de instantes

abarrotando a estante

de momentos congelados

 

Somos o que fomos

estáticos porta-retratos

abarrotando a estante

de sentimentos passados